Numa
cidade bem distante, havia um casal que acabara de ganhar seu sétimo filho
homem. A vida corria bem na tranquila vizinhança, mas o menino ao completar 13
anos, se sentia muito só e era constantemente caçoado na escola por ser
considerado estranho pelos seus colegas. Era final de ano, chegava o tão
esperado baile, porém o menino não havia sido convidado.Todos os jovens da
cidade curtiam a festa, muita comida e música animada, só não imaginavam o
tinha por vir. Já passava da meia noite de uma sexta-feira, quando ouviu-se um
uivo forte vindo da estrada que cruzava a cidade. Um jovem curioso se atreveu a
sair da festa e tentar descobrir de onde vinha aquele uivo tão alto. De
repente, surge correndo em disparada uma criatura aterrorizante, era metade
homem e metade lobo. O jovem fica espantado com a velocidade e a monstruosidade
daquele ser, e corre de volta para a festa gritando, para que todos pudessem se
salvar. Felizmente, a criatura corre em direção ao cemitério da cidade e os
convidados mesmo com medo, não são atacados. O menino que não foi a festa chega
em casa após ter passado a noite perambulando pelas ruas.
No
dia seguinte, os moradores ficam em estado de alerta, com muito medo do tal ser
aterrorizante retornar. O padre decide benzer as famílias e alerta sobre uma
história que ouvira nos tempos de seminarista. Quando um casal tem sete filhos
seguidos fruto de um casamento que não tenha sido feita sob a benção igreja,
uma maldição recai sobre o caçula, transformando-o em lobisomem toda
sexta-feira de lua cheia. Ele é condenado a correr sete cemitérios até o
amanhecer. E toda criança não batizada acaba atraindo o seu olfato fazendo-o
sentir uma fome desesperadora. O jovem que estava na festa, levanta e pergunta
ao padre: - Como podemos detê-lo? O padre responde: - A única forma de salvar a
todos é atirando no lobisomem com uma bala de prata. Ninguém desconfia do tal menino,
que não estava com os jovens na festa, afinal ninguém se interessava em saber
sobre ele.
Passaram-se
anos e a população da pequena cidade
vivia com medo do tal lobo aparecer. Quando ouvia-se o uivo, todos se escondiam
em suas casas e a criatura atacava os bichos de criação que ficavam no quintal
das casas. Apesar do medo, as pessoas seguiam com suas vidas, casando-se e
tendo seus filhos. Certa vez, numa noite de sexta-feira, uma mulher vestia-se
de vermelho para esperar seu esposo que chegara tarde do trabalho. Este por sua
vez, embriagou-se e ao passar por uma casa na qual havia um recém nascido,
sentia-se atraído pelo cheiro, então seu corpo coçava tanto que se arrastava no
chão de um lado para outro, mas sentia tanto medo que correu para casa, afim de
não ser reconhecido. Ao chegar em casa, é ofuscado pela cor da roupa de sua
esposa e acaba por morder a saia que ela estava usando. Pula o muro e foge pela
estrada que leva a outra cidade. A mulher desmaia e ao acordar encontra o
esposo caído no chão com a roupa toda suja. Ao acorda-lo começa a contar o que
aconteceu, mas vê entre os dentes dele um pedaço da roupa vermelha. Ao lembrar
do que o padre dissera na sua juventude, corre e pede socorro ao vizinho que
era caçador. Porém, o homem-lobo foi mais ágil e nunca mais souberam dele
naquela cidade.
Shirlei Ribeiro